A MENTALIDADE DO EGO
Grifos em Negrito;Mônica F De Jardin
Os dois sistemas de pensamento que são críticos para a compreensão de
Um Curso em Milagres são a mentalidade errada e a mentalidade certa.
Como eu disse no post anterior, a mentalidade errada pode
ser equiparada ao ego. A mentalidade certa pode ser equiparada ao
sistema de pensamento do Espírito Santo, que é o perdão. O sistema de
pensamento do ego não é muito feliz. O Curso torna muito claro que tanto
o ego quanto o Espírito Santo são perfeitamente lógicos e consistentes
em si mesmos. São também mutuamente exclusivos. Todavia,
nos ajuda muito compreender exatamente o que é a lógica do ego, porque
ele é muito lógico. Assim, uma vez que você perceba essa seqüência
lógica, muitos pontos no texto, que de outra forma parecem obscuros,
tornam-se bastante evidentes. Uma das dificuldades ao estudarmos Um
Curso em Milagres é que ele não se parece com nenhum dos outros sistemas
de pensamento. A maioria procede de uma forma linear na qual você
começa com idéias simples e vai construindo em cima delas em direção a
complexidade. O Curso não é assim. O sistema de pensamento
do Curso é apresentado de um modo circular. Parece andar em círculos
sempre em volta do mesmo ponto uma e outra vez. Vamos pensar na imagem
de um poço: você vai andando em círculos em volta do poço indo cada vez
mais para baixo até chegar ao fundo. E o fundo desse poço seria a
Fonte/Deus.
Mas você continua andando em volta do mesmo círculo. Acontece que ao
seguir cada vez mais para baixo, você se aproxima da fundação do sistema
do ego. Mas é sempre a mesma coisa. E é por isso que o texto diz a
mesma coisa uma e outra vez. Como é quase impossível compreender isso da
primeira vez, ou da centésima vez, você precisa das páginas. É um
processo, e essa é uma das coisas que distinguem Um Curso em Milagres
dos outros sistemas de espiritualidade. Apesar de ser apresentado como
um sistema de pensamento bastante intelectualizado, é realmente um
processo experimental. É escrito deliberadamente dessa forma, pois parte
de um ponto de vista pedagógico e pretende nos fazer estudar de um modo
diferente daquele que usaríamos para qualquer outro sistema,
conduzindo-nos em volta desse poço. No processo de trabalhar
com o material do Curso, e com o material das nossas vidas pessoais,
nós compreenderemos cada vez mais o que o Curso nos diz.
Contudo, eu acho que nos ajuda bastante abordar o sistema de pensamento
do ego de um ponto de vista linear, para podermos compreender como ele é
construído. Isso fará com que seja mais fácil lermos o texto.
Pecado, culpa, e medo
Ha três idéias centrais para a compreensão do sistema de pensamento
do ego. Esses são os fundamentos de todo o sistema: o pecado, a culpa, e
o medo. Sempre que vocês virem a palavra ‘pecado’ no Curso, podem substituí-la pela palavra ‘separação’,
porque as duas são a mesma. O pecado pelo qual nós nos sentimos mais
culpados, que em última instância é a fonte de toda a nossa culpa, é o
pecado de acreditarmos que estamos separados da Fonte/ Deus, o tópico
que acabamos de descrever. Isso é em princípio a mesma coisa que as
igrejas ensinaram como o ‘pecado original’. A descrição
no terceiro capítulo do Gênesis nos dá um relato perfeito do nascimento
do ego. De fato, o primeiro subtítulo do Capítulo no texto fala sobre
isso (T-I. -). Assim o início do ego é acreditarmos que estamos
separados da Fonte/Deus. O pecado é isso: acreditarmos que nos separamos
de nosso Criador e constituirmos um ser que é separado do nosso Ser
verdadeiro. O Ser é sinônimo de Cristo. Sempre que vocês virem a palavra ‘Ser’ com letra maiúscula, podem substituí-la por ‘Cristo’. Nós
acreditamos que constituímos um ser (com ‘s’ minúsculo) que é a nossa
verdadeira identidade e esse ser é autônomo com relação ao nosso Ser
real e com relação a Deus. Esse é o começo de todos os problemas no
mundo: acreditarmos que somos indivíduos separados da Fonte/ Deus.
Uma vez que acreditamos que cometemos esse pecado, ou uma vez que
acreditamos que cometemos qualquer pecado, é psicologicamente inevitável
nos sentirmos culpados por aquilo que acreditamos que fizemos. Em certo
sentido, a culpa pode ser definida como a experiência de termos pecado.
Assim, podemos básicamente usar pecado e culpa como sinônimos: uma vez
que acreditamos que pecamos é impossível não acreditarmos que somos
culpados, passando a sentir o que conhecemos como culpa. Quando Um Curso
em Milagres fala sobre culpa, usa a palavra de modo um pouco diferente
daquele no qual ela é usada geralmente, que quase sempre serve para
conotar que eu me sinto culpado por aquilo que fiz ou deixei de fazer. A
culpa está sempre ligada a coisas específicas do nosso passado. Mas
essas experiências conscientes de culpa são apenas como o topo de um
iceberg. Se vocês pensarem num iceberg, abaixo da superfície do mar está
essa massa gigantesca que representaria o que é a culpa. A culpa é
realmente a soma total de todas as crenças, experiências e sentimentos
negativos que tivemos sobre nós mesmos. Assim, a culpa pode ser
qualquer forma de ódio ou rejeição de si mesmo; sentimentos de
incompetência, fracasso, vazio, ou a sensação de que há coisas em nós
que estão faltando, ou estão perdidas, ou são incompletas.
A maior parte dessa culpa é inconsciente; é por isso que a imagem de
um iceberg é tão útil. A maior parte das experiências que nos indicariam
o quanto nós nos sentimos mal estão abaixo da superfície da nossa
mente consciente, o que faz com que sejam virtualmente inacessíveis a
nós. E a maior fonte de toda essa culpa é acreditarmos que
pecamos contra a Fonte/ Deus por nos separarmos d’Ele. Como resultado
disso, vemos a nós mesmos separados de todas as outras pessoas e do
nosso Ser. Uma vez que nos sentimos culpados é impossível não
acreditarmos que seremos punidos pelas coisas terríveis que acreditamos
ter feito e pelas coisas terríveis que acreditamos ser.
Como o Curso nos ensina, a culpa sempre exige punição. Uma vez que nos
sentimos culpados, acreditaremos que temos que ser punidos pelos nossos
pecados. Psicologicamente não há nenhuma forma de evitarmos esse passo.
Então teremos medo. Todo medo, não importa qual pareça ser a sua causa
no mundo, vem da crença de que eu devo ser punido pelo que fiz ou pelo
que não fiz. E assim terei medo do que será essa punição. Por
acreditarmos que o objeto último do nosso pecado é a Fonte/ Deus, contra
o qual pecamos por nos separarmos d’Ele, acreditaremos então que será o
próprio Deus que virá nos punir. Quando lemos a Bíblia e
nos deparamos com todas aquelas passagens terríveis sobre a ira e a
vingança de Deus, agora sabemos onde elas tiveram origem. Isso nada tem a
ver com Deus como Ele é, já que Deus é apenas Amor. Todavia isso tem tudo a ver com as projeções da nossa culpa sobre Ele. Metaforicamente, não foi Deus quem expulsou Adão e Eva do Jardim do Éden; Adão e Eva expulsaram a si mesmos do Jardim do Éden
O Curso nos fala dos quatro obstáculos para a paz, e o último obstáculo é
o medo da Fonte/ Deus (T-IV-D). O que fizemos, é claro, por nos
tornarmos amedrontados em relação a Deus, foi transformar o Deus do Amor
em um Deus de medo: um Deus de ódio, punição e vingança. É
justamente isso que o ego quer que façamos. Uma vez que nos sentimos
culpados, pouco importa de onde acreditamos que venha essa culpa, também
acreditamos não apenas que somos culpados, mas que Deus nos vai atacar
e matar. Assim, Deus, que é o nosso Pai cheio de amor e nosso único
Amigo, vem a ser nosso inimigo. E Ele é um inimigo e
tanto, nem sequer é preciso dizer. Mais uma vez, essa é a origem de
todas as crenças que encontramos na Bíblia, ou em qualquer outro lugar,
sobre Deus como um Pai que nos vai punir. Acreditar que Ele é assim é
atribuir-Lhe as mesmas qualidades egóticas que nós temos. Como disse Voltaire: “Deus criou o homem a Sua própria imagem e depois o homem Lhe devolveu o cumprimento”.
O Deus que nós criamos é realmente a imagem de nosso próprio ego.
Ninguém pode existir nesse mundo com esse grau de medo e terror, e com
essa intensidade de ódio e culpa contra si mesmo na sua mente
consciente. Seria absolutamente impossível para nós vivermos com essa
quantidade de ansiedade e terror, isso nos devastaria.
Portanto, tem que haver algum meio de lidarmos com isso. Como não
podemos ir à Fonte/ Deus em busca de ajuda, já que dentro do sistema do
ego nós transformamos Deus em um inimigo, o único outro recurso
disponível é o próprio ego. Diálogo interior;-Nós vamos ao ego em busca
de ajuda e dizemos: “Olhe, você tem que fazer alguma coisa, eu não posso
tolerar toda essa ansiedade e todo o terror que sinto. Ajude-me!” O
ego, fiel à sua forma, nos oferece uma ajuda que não nos ajuda
absolutamente, embora pareça que sim. A ‘ajuda’ vem em duas formas
básicas;-. Negação e projeção -No Curso, ‘ego’ é
usado basicamente com a mesma conotação que existe no Oriente. Em
outras palavras, o ego é o ser com letra minúscula. Para Freud, o ego é
apenas uma parte da psiquê, que consiste do id (o inconsciente), o
superego (o consciente), e o ego, que é a parte da mente que integra
tudo isso. O Curso usa a palavra ‘ego’ de formas que seriam básicamente
equivalentes a psiquê total de Freud. Vocês simplesmente tem que fazer
essa transição para trabalhar com o Curso. Incidentalmente, o único erro
de Freud foi monumental; Ele não reconheceu que toda a
psiquê era uma defesa contra o nosso verdadeiro Ser, a nossa verdadeira
realidade. Freud tinha tanto medo da sua própria espiritualidade que ele
teve que construir todo um sistema de pensamento que era virtualmente
impregnável à ameaça do espírito. E ele, de fato, fez exatamente isso.
Mas foi brilhante ao descrever como a psiquê ou o ego trabalham. O seu
erro, mais uma vez, foi não reconhecer que a coisa toda era uma defesa
contra a Fonte / Deus.
Particularmente notáveis foram as contribuições de Freud na área dos
mecanismos de defesa, ajudando-nos a compreender como nos defendemos
contra toda a culpa e medo que sentimos. Quando vamos ao ego em busca de
ajuda, abrimos um livro de Freud e achamos duas coisas que nos vão
ajudar muito. A primeira é repressão ou negação. (O Curso nunca usa a
palavra ‘repressão’; ele usa a palavra ‘negação’. Mas vocês podem usar
uma ou outra.) O que fazemos com essa culpa, esse senso de pecado, e
com todo esse terror que sentimos é fazer de conta que não existem. Nós
apenas os empurramos para o fundo, fora da consciência, e esse empurrar
para baixo é conhecido como repressão ou negação. Apenas negamos a sua
existência para nós mesmos. Por exemplo, se estamos com muita preguiça
de varrer o chão, varremos a sujeira para baixo do tapete e então
fazemos de conta que não está ali; ou um avestruz que quando tem medo
apenas enfia a cabeça na areia para não ter que lidar com o que o ameaça
tanto, nem sequer se defrontar com isso. Bem, isso não funciona por
razões óbvias. Se continuamente varremos a sujeira para baixo do tapete,
ele vai ficar cheio de caroços e nós eventualmente vamos tropeçar,
enquanto o avestruz pode se ferir muito continuando com a sua cabeça
virada para baixo. Mas, em algum nível, sabemos que a nossa culpa está
lá.
Assim, vamos ao ego mais uma vez para lhe dizer que “negar foi ótimo,
mas você vai ter que fazer alguma outra coisa. Esse negócio vai subir e
eu vou explodir. Por favor, ajude-me.” E aí o ego diz: “Eu tenho a
coisa certa para você.” Ele nos diz para procurar na página tal e tal na
Interpretação dos Sonhos de Freud e lá nós achamos o que se conhece
como projeção. Provavelmente não há nenhuma idéia em Um Curso em
Milagres que seja mais crítica para a nossa compreensão do que essa. Se
vocês não compreenderem a projeção, não compreenderão única palavra no
Curso, nem em termos de como o ego funciona, nem em termos de como o
Espírito Santo vai desfazer o que o ego tem feito. Projeção muito
simplesmente significa que você tira alguma coisa de dentro de si mesmo e
diz que realmente isso não está aí; está fora de você, dentro de outra
pessoa. A palavra em si literalmente significa jogar fora,
atirar algo a partir de, ou em direção a alguma outra coisa ou pessoa, e
isso é o que todos nós fazemos na projeção. Nós tomamos a
culpa ou o pecado que acreditamos estar dentro de nós e dizemos: Isso
não está realmente em mim, está em você. Eu não sou culpado, você é
culpado. Eu não sou responsável por ser miserável e infeliz, você sim é
culpado pela minha infelicidade. Do ponto de vista do ego, não importa
quem seja o ‘você’. Para o ego, não importa em cima de quem você
projeta, contanto que ache alguém para descarregar a sua culpa. É assim
que o ego nos diz para nos livrarmos da culpa.
Assim, tomamos os nossos pecados e dizemos que eles não estão em nós,
estão em você. Com isso colocamos uma distância entre nós mesmos e
nossos pecados. Ninguém quer estar perto de seus próprios pecados, e
assim nós os tiramos de dentro de nós e os colocamos em outra pessoa e
depois banimos essa pessoa de nossa vida. Há duas formas básicas de
fazermos isso. Uma é nos separarmos físicamente dela; a outra é nos
separarmos psicologicamente. A separação psicológica é realmente a mais
devastadora e também a mais sutil. O modo de nos separarmos de outras
pessoas, uma vez tendo colocado nossos pecados sobre elas, é atacá-las
ou ficar com raiva. Qualquer expressão da nossa raiva—seja
na forma de um leve toque de aborrecimento ou fúria intensa (não faz
nenhuma diferença; elas são a mesma coisa [L-pI.: -J)— é sempre uma tentativa
de justificar a projeção da nossa culpa, não importa qual pareça ser a
causa da nossa raiva. Essa necessidade de projetar a nossa culpa é a
raiz da causa de toda a raiva. Você não tem que concordar com o que as
outras pessoas dizem ou fazem, mas no minuto em que experimenta uma
reação pessoal de raiva, julgamento ou crítica, isso vem sempre porque
você viu naquela pessoa alguma coisa que negou em Si mesmo.
Em outras palavras, você está projetando o seu próprio pecado e culpa
naquela pessoa e os ataca lá. Mas dessa vez, você não os está atacando
em si mesmo, e sim naquela outra pessoa, que você quer tão longe quanto
possível. O que você realmente quer fazer é conseguir que o seu pecado
fique bem longe de si mesmo. Quando se tem essa
compreensão é interessante entrar no Novo Testamento e ver como Jesus
era contra isso. Ele abraçou todas as formas de sujeira que as pessoas
tinham definido e viam como parte essencial de sua religião manterem-se
separadas daquilo tudo. Ele fazia questão de abraçar os elementos
sociais identificados pela lei judaica como proscritos, como se
estivesse dizendo: “Você não pode projetar a sua culpa nas outras pessoas. Você tem que identificá-la em si mesmo e curá-la onde ela está.”
É
por isso que Os evangelhos dizem coisas tais como você deve limpar o
interior do seu copo e não o exterior; não se preocupe com o argueiro no
olho do seu irmão, preocupe-se com a trave no seu; não é o que entra no
homem que faz com que ele não seja limpo, mas o que vem de seu
interior. O sentido disso é exatamente o mesmo encontrado no
Curso: a fonte do nosso pecado não está fora, mas dentro. Mas a
projeção busca fazer com que vejamos nossos pecados fora de nós,
procurando então resolver o problema do lado de fora de modo que nunca
possamos perceber que o problema esta dentro da gente. Quando vamos ao
ego em busca de ajuda e dizemos: “Ajude-me a me livrar da minha culpa,” o
ego diz: “Está bem, o meio de você se livrar da sua culpa é em primeiro
lugar reprimi-la, depois projetá-la para outras pessoas. É assim que
você se livra da sua culpa.”
O que o ego não nos diz é que projetar a culpa é um ataque e é a melhor maneira de conservarmos a culpa. O ego não é nenhum tolo: ele quer que continuemos culpados. Um
Curso em Milagres nos fala da “atração da culpa” (T-IV-A. -). O ego é
muito atraído pela culpa, e os seus motivos são óbvios uma vez que você
se lembre do que ele é. A explicação racional do ego para os
seus conselhos de negação e projeção é a seguinte: o ego não é nada
mais do que uma crença, a crença segundo a qual a separação é real. O
ego é o falso ser que aparentemente passou a existir quando nós nos
separamos de Deus. Portanto, enquanto acreditarmos que a separação é
real, o ego continua em cena.
Uma vez que acreditarmos que não há nenhuma separação, então o ego
está terminado. Como nos diz o Curso, o ego e o mundo que ele fez
desaparecem no nada de onde ele veio (M-l:). O ego não é nada realmente.
Enquanto acreditarmos que aquele pecado original ocorreu, que o pecado
da separação é real, estamos dizendo que o ego é real. É a culpa que nos
ensina que o pecado é real. Qualquer sentimento de culpa é sempre uma
declaração que diz: “Eu pequei”. E o significado último do pecado é que
eu me separei da Fonte/ Deus. Portanto, enquanto eu acreditar que o meu
pecado é real, sou culpado. Quer eu veja o meu pecado em mim ou em outra
pessoa, estou dizendo que o pecado é real, e que o ego é real.
O ego, portanto, tem interesse em nos manter culpados. Sempre que o ego
seja confrontado com a impecabilidade, ele vai atacá-la, pois o maior
pecado contra o sistema de pensamento do ego é ser sem culpa. Se você é
sem culpa, você também é sem pecado, e se você é impecável, não há ego.
Há uma frase no texto que diz: “Para o ego, os que não tem culpa são
culpados” (T-II.:), porque ser sem culpa é pecar contra o mandamento do
ego: “Tu serás culpado”.
Se você não tem culpa, você então passa a ser culpado por não ter
culpa. Assim sendo, o propósito fundamental do ego é manter-nos
culpados. Mas ele não nos pode dizer isso porque, se o fizer, não vamos
prestar nenhuma atenção a ele então ele nos diz que se seguirmos o que
ele nos aconselha, ficaremos livres da nossa culpa. E o modo de
conseguirmos isso, mais uma vez, é negar a sua presença em nós, vê-la em
alguma outra pessoa e depois atacar essa pessoa. Assim ficaremos livres
da nossa culpa. Mas, o que ele não nos diz é que atacar é o melhor meio
de nos manter culpados. Isso é verdade porque, como declara um outro
axioma psicológico, sempre que você ataca uma pessoa qualquer, seja na
sua mente ou de fato, você se sentirá culpado. Não há forma alguma de
ferir qualquer um, seja em pensamento ou atos, que não acarrete
sentimentos de culpa. Você pode não experimentar a culpa—por exemplo,
psicopatas não experimentam a própria culpa—mas isso não significa que
em um nível mais profundo não se sintam culpados. Nesse
ponto, o que o ego faz, e de modo muito astuto, é estabelecer um ciclo
de culpa e ataque através do qual quanto mais culpados nos sentimos,
maior será a nossa necessidade de negar a culpa em nós mesmos atacando
uma outra pessoa por isso. Contudo, quanto mais atacamos um outro, maior
será a nossa culpa pelo que fizemos, pois em algum nível reconhecemos
que atacamos aquela pessoa falsamente. Isso só nos fará sentir culpa e
manterá a coisa toda indefinidamente.É
esse ciclo de culpa e ataque que faz o mundo girar, não é o amor. Se
alguém lhe diz que o amor faz o mundo girar, esse alguém não sabe grande
coisa sobre o ego. O amor é do mundo de Deus e é possível refletir esse
amor neste mundo. Todavia, neste mundo o amor não tem lugar. O que tem
lugar é culpa e ataque, e é essa a dinâmica que está tão presente em
nossas vidas, seja a nível individual, ou coletivo.
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Excerto do livro texto-capítulo 3
Além da percepção
1. Tenho dito que as capacidades que possuis são apenas
sombras da tua força real e que a percepção – que é inerentemente
julgadora – só foi introduzida depois da separação.
Ninguém tem estado seguro de nada desde então. Também fiz com que
ficasse claro que a ressurreição foi o meio para o regresso ao
conhecimento, realizado pela união da minha vontade com a do meu Pai.
Podemos agora estabelecer uma distinção que esclarecerá algumas das
nossas declarações subsequentes.
2. Desde a separação, as palavras «criar» e «fazer» passaram a ser
confusas. Quando fazes alguma coisa fazes a partir de um sentimento
especifico de falta ou de necessidade. Qualquer coisa feita para um
propósito específico não tem nenhuma generalizabilidade verdadeira.
Quando fazes alguma coisa para preencher uma falta percebida, estás a
demonstrar tacitamente que acreditas na separação. O ego inventou muitos
sistemas de pensamento engenhosos com este propósito. Nenhum deles é
criativo. A inventividade é um esforço desperdiçado mesmo na sua forma
mais engenhosa. A natureza altamente específica da invenção não é digna
da criatividade abstrata das criações de Deus.
3. «Conhecer», como já observamos não conduz ao «fazer». A confusão
entre a tua criação real e o que tens feito de ti mesmo é tão profunda
que passou a ser literalmente impossível para ti conhecer qualquer
coisa. O conhecimento é sempre estável e é bastante evidente que tu não
és. No entanto, és perfeitamente estável tal como a Fonte/
Deus te criou. Neste sentido, quando o teu comportamento é instável,
estás distorcendo a idéia de Deus com respeito à tua criação. Tu podes
fazer isto, se assim escolheres, mas dificilmente quererás fazê-lo se
estiveres na tua mente certa.
4. A questão fundamental que te perguntas contínuamente não pode, de
maneira nenhuma, ser dirigida a ti mesmo de forma adequada. Continuas a
perguntar o que és. Isto significa que a resposta, não só é uma resposta
que conheces, mas também que depende de ti supri-la. Entretanto, não
podes entender-te a ti mesmo corretamente. Não tens nenhuma imagem para
ser percebida. A palavra «imagem» está sempre relacionada
com a percepção e não é uma parte do conhecimento. Imagens são
simbólicas e representam alguma coisa. A idéia de «mudar a tua imagem»
reconhece o poder da percepção, mas também significa que não há nada
estável para conhecer.
5. Conhecer não está aberto à interpretação. Podes tentar
«interpretar» o significado, mas isso é sempre passível de erro, porque
se refere à percepção do significado. Tais incongruências
são o resultado das tentativas de te considerares a ti mesmo como
separado e não separado, ao mesmo tempo. É impossível fazer uma confusão
tão fundamental sem aumentar ainda mais a tua confusão geral. A tua
mente pode ter passado a ser muito engenhosa, mas como sempre acontece
quando método e conteúdo estão separados, a mente é usada para fazer uma
tentativa fútil de escapar de um impasse inescapável. A
engenhosidade é totalmente divorciada do conhecimento, porque o
conhecimento não requer engenhosidade. O pensamento engenhoso não é a
verdade que te libertará, mas tu estás livre da necessidade de te
comprometeres com o pensamento engenhoso quando estás disposto a
abandoná-lo.
6. A oração é um modo de pedir alguma coisa. É o veículo dos
milagres. Mas a única oração significativa é a que perde o perdão,
porque aqueles que foram perdoados têm tudo. Uma vez que o perdão tenha
sido aceito, a oração, no sentido usual, passa a não ter qualquer
significado. A oração pelo perdão não é mais do que um
pedido para que possas ser capaz de reconhecer o que já possuis. Ao
elegeres a percepção no lugar do conhecimento colocaste-te numa posição
na qual só poderias parecer-te com o teu Pai percebendo milagrosamente. Perdeste o conhecimento de que tu, em ti mesmo, és um milagre de Deus. A criação é a tua Fonte e a tua única função real.
7. A declaração «Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança»
necessita de reinterpretação. «Imagem» pode ser compreendida como
«pensamento» e «semelhança» como «de qualidade semelhante». Deus,
efetivamente, criou o espírito no Seu próprio Pensamento com uma
qualidade semelhante à Sua própria. Não há mais nada. A percepção, por
outro lado, é impossível sem uma percepção em «mais» e «menos». Em todos
os níveis envolve seletividade. A percepção é um processo
contínuo de aceitar e rejeitar, organizar e reorganizar, deslocar e
mudar. A avaliação é uma parte essencial da percepção porque os
julgamentos são necessários para a seleção.
8. O que acontece às percepções se não existirem julgamentos, nem
nada além da perfeita igualdade? A percepção passa a ser impossível. A
verdade só pode ser conhecida. Toda a verdade é igualmente verdadeira e
conhecer qualquer uma das suas partes é conhecer toda a verdade. Só a
percepção envolve a consciência parcial. O conhecimento transcende as
leis que governam a percepção porque um conhecimento parcial é
impossível. É totalmente uno e não tem partes separadas. Tu,
que realmente és um com ele, não precisas senão conhecer-te a ti mesmo
para que o teu conhecimento esteja completo. Conhecer o milagre de Deus é
conhecê-Lo.
9. O perdão é a cura da percepção da separação. A
percepção correta do teu irmão é necessária porque as mentes escolheram
ver-se a si mesmas como separadas. O espírito conhece Deus de forma
completa. Esse é o seu poder milagroso. O fato de que cada um tem esse
poder de forma completa é uma condição inteiramente alheia ao pensamento
do mundo. O mundo acredita que se alguém tem tudo, não
sobra nada. Mas os milagres de Deus são tão totais como os Seus
pensamentos, porque são os seus Pensamentos.
10. Enquanto durar a percepção há lugar à oração. Uma vez que a
percepção se baseia na falta, aqueles que percebem não aceitaram
totalmente a Expiação, nem se entregaram à verdade. A
percepção baseia-se num estado separado, de modo que qualquer pessoa que
perceba seja o que for, necessita de cura. A comunhão, não a oração, é o
estado natural daqueles que conhecem. Deus e o Seu
milagre são inseparáveis. Como são belos, de fato, os Pensamentos de
Deus que vivem à Sua luz! O teu valor está além da percepção, porque
está além da dúvida. Não te percebas a ti mesmo sob luzes diferentes. Conhece-te a ti mesmo na Luz Una onde o milagre que tu és está perfeitamente claro.
1. Distintos dos anteriores, estes exercícios não começam com a idéia
para o dia. Nestes períodos de prática, começa notando os pensamentos
que estão cruzando a tua mente durante mais ou menos um minuto. Em
seguida, aplica a idéia a eles. Se já estiveres ciente de pensamentos
infelizes, usa-os como sujeitos para a idéia. Todavia, não seleciones
apenas os pensamentos que pensas que são “maus”. Acharás, treinando-te a
olhar para os teus pensamentos, que representam uma tal mistura que, de
certa forma, nenhum deles pode ser chamado de “bom” ou “mau”. É por
isso que não significam nada.
2. Ao selecionares os sujeitos para a aplicação da idéia de hoje, a
especificidade usual é requerida. Não tenhas medo de usar tanto os
pensamentos “bons” quanto os “maus”. Nenhum deles representa os teus
pensamentos reais, que estão sendo cobertos por eles. Os “bons” são
apenas sombras daquilo que está além, e sombras fazem com que seja
difícil ver. Os “maus” são bloqueios para a vista e fazem com que seja
impossível ver. Não queres nenhum dos dois.
3. Este é um dos exercícios principais e será repetido de vez em
quando de forma um pouco diferente. O objetivo aqui é o de treinar-te
nos primeiros passos em direção à meta de separar o que é sem
significado daquilo que é significativo. É uma primeira tentativa no
propósito de longo alcance de aprenderes a ver o sem significado como
estando fora de ti e o significativo dentro de ti. Também é o começo do
treinamento da tua mente para reconhecer o que é o mesmo e o que é
diferente.
4. Ao usares os teus pensamentos para a aplicação da idéia para o dia
de hoje, identifica cada pensamento pela figura central ou evento que
ele contém, por exemplo:
Este pensamento sobre ______ não significa nada. É como as coisas que vejo neste quarto [nesta rua, e assim por diante].
5. Também podes usar a idéia para algum pensamento em particular que
reconheças como danoso. Essa prática é útil, mas não é um substituto
para os procedimentos mais casuais que devem ser seguidos para os
exercícios. Contudo, não examines a tua mente por mais de um minuto
aproximado. Ainda és por demais inexperiente para evitar uma tendência a
preocupar-te de forma inútil.
6. Além disso, como estes exercícios são os primeiros desse tipo,
podes achar a suspensão de julgamento em conexão com os pensamentos
particularmente difícil. Não repitas estes exercícios mais de três ou
quatro vezes durante o dia. Nós voltaremos a eles mais tarde.
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