10 abril 2012

VIVA O PRESENTE


                                                Imagem: Kagaya Yutaka

                                             

                                               
Ao observarmos o ser humano encontramos várias divisões.
 
Uma parte vive exclusivamente no passado, isto é,  só começam a compreender as coisas quando estas já são passadas.
 
O resultado é que eles não podem alegrar-se verdadeiramente a respeito de um acontecimento nem sentir intuitivamente a gravidade de qualquer coisa.
Somente depois é que começam a falar dela, a se entusiasmarem ou a se lastimarem.

Desse modo se descuidam sempre dos acontecimentos do presente, ocupados com as conversas sobre os fatos decorridos, quer seja para lastimá-los ou para se aprazerem a seu respeito.
Somente quando as coisas pertencem ao passado é que começam a dar-lhes valor.
 
Uma outra parte, ao contrário, vive no futuro. Só desejam e só tem esperança no futuro, esquecendo-se que o presente lhes pode dar muito, e esquecendo-se também, de se mover, de modo que possam transformar em realidade muitos de seus sonhos de futuro.
 
Ambas as partes, às quais pertence a maior porção da humanidade, não tem vivido realmente sobre a Terra. Estão perdidos em sua existência terrena.
 
Haverá  também indivíduos que compreenderão de modo inteiramente falso o grito: “Vivei o presente!”  julgando talvez,  que, com isso, tenham  em mente aconselhar o aproveitamento e gozo de cada momento, inculcando uma existência frívola. Há muitas pessoas que passam pela vida cambaleando dessa maneira insensata.
 
É certo que com esse apelo exige-se o aproveitamento incondicional de cada minuto, interiormente, não no sentido superficial, somente externo.
Cada hora do presente deve ser verdadeiramente vivida pelo homem! Tanto a alegria como o sofrimento.
 
O homem deve encontrar-se aberto em todos os seus sentidos e o pensamento a todos os sentimentos do presente, e, por esse motivo, encontrar-se desperto.
Somente assim terá lucro com a vida terrena que lhe foi destinada.
 
Não poderá encontrar a verdadeira vida nem com os pensamentos do passado nem com os sonhos a respeito do futuro, porque ambos não podem ser bastante fortes para imprimir seu cunho próprio no espírito, a ponto de constituir isso um lucro que possa levar para o Além.
 
Se não viver mesmo, não poderá ficar amadurecido. O amadurecimento depende de viver.
 
Se na vida terrena não se faz viver sempre o presente em si próprio , voltará vazio, tendo que percorrer novamente o caminho que não soube aproveitar, porque não se encontrava desperto, não soube apropriar-se dele por meio da verdadeira vida.
 
A vida terrena é como um degrau no ser integral do homem, e por tal modo grande que o individuo não pode saltá-lo . Se não firmar bem o pé nesse degrau, não poderá passar para o seguinte, porque necessita desse como fundamento próprio.
 
Se os homens imaginam toda sua existência nesta Terra como um esforço para voltar à Luz, tem que adquirir consciência  clara de que só poderão passar para um determinado degrau depois de haver preenchido verdadeiramente o anterior, e firmado bem o pé nele.
 
Pode-se dizer tudo de modo mais forte ainda:   somente da realização total e incondicional de um determinado degrau que tem de ser vivido é que pode desenvolver-se o degrau subsequente.
 
Se o individuo não preenche cabalmente com o viver, o único meio que tem disponível para alcançar o amadurecimento, o degrau em que se encontra, não poderá ver o que vem a seguir, porque precisará para isso da realização do viver do degrau anterior.
 
Somente com o aparelhamento adquirido pelo próprio viver é que fica com a força necessária para reconhecer e galgar o degrau superior.
 
E assim se dá, sucessivamente, de degrau em degrau. Se quiser olhar somente para o ponto mais elevado, sem atender aos degraus intermediários que o levarão àquele, jamais conseguirá alcançar a meta desejada.
 
Os degraus que se verá na contingência de construir para poder elevar-se, serão muito precários e demasiado ligeiros , desfazendo-se no momento de serem ensaiados para a ascensão.
Esse perigo é obviado pelo fato muito natural de só poder desenvolver-se o degrau ulterior pela realização completa do degrau presente.
 
Quem não quiser, portanto, ficar com sua existência  pela metade em um degrau qualquer e ter que  voltar continuamente aos já percorridos, esforce-se sempre por pertencer completamente ao presente, para aprendê-lo com acerto, vivê-lo inteiramente, para que possa tirar disso proveitos espirituais.
 
Não lhe faltará com isso também o lucro terreno, porque a primeira vantagem colhida consiste em não esperar dos homens e do tempo senão o que realmente podem dar!
 
Desse modo jamais poderá iludir-se , assim como ficará sempre em harmonia com seu ambiente.

Mas se trouxer consigo somente o passado ou devaneios do futuro,  suas expectativas poderão ultrapassar facilmente os limites de seu presente, tendo que ficar desse modo em desarmonia com ele, o que não somente lhe ocasionará sofrimentos como também aos que o cercam mais de perto.
 
É certo que o homem deve também pensar no passado para tirar dele experiência, assim como fazer sonhos a respeito do futuro, a fim de receber estímulo...
 
Mas só se deve viver conscientemente o presente!


- Abdruschin
( escrito em 1931)




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