Imagem: Kagaya Yutaka
Quando não estamos mais totalmente identificados com as formas, a consciência – quem nós somos – se vê livre do seu aprisionamento da forma. Essa liberdade é o surgimento do espaço interior. Ele chega como se um estado de silêncio e calma, uma paz sutil enraizada dentro de nós, mesmo diante de algo que parece mau – “Isso também passará”. De repente existe um espaço em torno do acontecimento. Há também o espaço ao redor dos altos e baixos emocionais, até mesmo da dor. E, acima de tudo, existe espaço entre nossos pensamentos. E, desse espaço, emana uma paz que não é “deste mundo”, porque este mundo é forma, enquanto a paz é espaço. Essa é a paz de Deus.
Agora podemos desfrutar e estimar as coisas e os eventos sem lhes atribuir uma importância que eles não possuem. Temos condições de participar da dança da criação e sermos ativos sem nos apegarmos ao resultado e sem impormos exigências pouco razoáveis em relação ao mundo, como: satisfaça-me, faça-me feliz, faça-me sentir seguro, diga-me quem sou. O mundo não pode nos dar nada disso e, quando deixamos de ter essas expectativas, todo o sofrimento que nós mesmos criamos chega ao fim. Toda essa dor se deve à valorização exagerada da forma e à falta de consciência quanto à dimensão do espaço interior.
Quando a dimensão está presente em nossa vida, podemos aproveitar as coisas, as experiências e os prazeres sensoriais sem nos perdermos neles, sem nos apegarmos internamente a nada disso, isto é, sem nos tornarmos viciados no mundo.
A mensagem “Isso também passará” é um instrumento de orientação em relação à realidade. Ao indicar a transitoriedade de todas as formas, ela também aponta a simplicidade para o eterno. Apenas o eterno dentro de nós reconhece o efêmero como efêmero.
Sempre que a dimensão do espaço se perde ou não é conhecida, as coisas assumem uma importância absoluta, uma seriedade e um peso que, na verdade, elas não possuem. Toda vez que o mundo não é visto da perspectiva do que não tem forma, ele se torna um lugar ameaçador, em última análise, de desespero.
O profeta do antigo testamento sentiu isso quando escreveu: “Todas as coisas se afadigam, e mais do que se pode dizer”
Texto extraído do Livro “UM Novo Mundo – O despertar de uma nova consciência” do autor Eckhart Tolle.