01 novembro 2018

UM CONTO DA LUZ

Por Christian Malcon 
A caverna era enorme  com quilômetros de extensão. Não dava para ver sua entrada.
Tudo era a mais completa escuridão.
Nela habitavam três grupos conhecidos, os Crons, os Magiar, e os Erats.
Viviam em constantes lutas violentas por alimento e se odiavam, ao mesmo tempo em que temiam uns aos outros.
Pouco dava para se enxergar, somente contornos. Embora a caverna tivesse uma temperatura quente, havia muita umidade, de onde nasciam árvores estranhas, com seus frutos estranhos.
No silêncio da caverna podia se ouvir  o farfalhar dos morcegos,  uivos de uma espécie parecida com os lobos, o assobiar de um espécie de anta, o ulular de aves noturnas, o ziziar de cigarras, e o zumbido de  outros insetos.
Animais passavam o tempo todo entre as tribos, o que provocava uma caçada desenfreada entre os três povos, ocasionando até mortes.
Após cada morte de um habitante das tribos, parecia que a escuridão aumentava, a ponto de não se enxergar absolutamente nada.
O medo e o terror reinavam.
Certo dia os Crons observaram uma luz que vinha da parte mais elevada da caverna. Assustados perceberam que a  pequena luz vinha em sua direção.
Embora pequena,  a luz era forte o suficiente para cegá-los , mas em poucos instantes perceberam que era um vivente carregando a luz.
Um homem coberto com um manto azul da cabeça aos pés. Na sua mão esquerda uma chama azulada crepitava.
Os Crons gritavam – É um deus, e se ajoelhavam aterrorizados de medo.
– Nada temam ,disse o homem – Eu vim lhes trazer luz. –Levantem-se.
Os Crons, boquiabertos, se levantaram.
– Meu nome é Daw’, disse o homem.  De sua mão esquerda  havia um pó de onde saia a chama de luz, e o colocou em um pequeno monte de terra petrificada.
O líder dos Crons disse – Senhor, veio nos salvar dos terríveis Magiar e Erats?
– Não, disse o homem – Eu vim salvá-los de si mesmos!
– Mas como? Disse o líder dos Crons. – Os Magiar são abomináveis criaturas, tem chifres nas cabeças,e os Erats são verdadeiros monstros com cabeças monstruosas.
Nisso alguns Magiar e alguns Erats, mesmo assustadíssimos, apareceram para ver  a luz.
Os Crons iluminados pela  luz, puderam observar que os chifres nas cabeças dos Magiar, eram apenas galhos amarrados em seus cabelos, e no Erats observaram que as cabeças monstruosas era apenas máscaras feitas com as caveiras  dos animais que se assemelhavam a antas.
– São exatamente iguais a nós, disse  um dos Crons.
– Se há comida, peço que todos nos  sentemos juntos para comer, falou Daw’.
Todos se sentaram em volta da luz meio ressabiados, mas atenderam ao pedido daquele que achavam um deus.
Daw’ falou para os Crons, vamos,  passem a comida para os Erats e os Magiar que estão chegando.
Fizeram o que o homem pediu, todos em silêncio.
À medida que dividiam a comida, da chama em cima do monte saiam partículas de poeira que se elevavam no céu da caverna, se concentravam e formavam uma pequena bola de fogo  que clareava tudo em volta.
Os habitantes puderam ver a vegetação com suas árvores retorcidas e cheias de frutos.  Os animais que corriam em volta. Os morcegos no topo da caverna, o reflexo do lago próximo a eles.
– Vamos dividam sua comida e se abracem agradecidos  quando entregá-las. Falou Daw’.
Quanto mais os habitantes faziam isso, mais pó saia do pequeno monte e subia para se juntar com as outras e a bola de fogo aumentava.
Os Erats e os Magiar vinham cada vez mais se achegando dos Crons e trazendo presentes e se abraçando. Mais  o pó ia subindo e a bola de fogo aumentando como se fosse um sol dentro da caverna.
– Vejam podemos enxergar tudo, falavam contentes os habitantes em festa.
Alguns Crons, Magiar e Erats, não gostaram da luz forte dizendo que ofuscava suas vistas e se sentiam mal e decidiram se juntar e rumaram  mais para as profundezas da caverna, bem distante da luz.
Mas muitos, a maioria estava contente e lá permaneceram.
– Minha função aqui terminou, falou Daw’ – Agora vou partir.
Agradecidos os habitantes o abraçavam e se despediam emocionados.
Daw’ foi para a parte mais elevada da caverna e saiu não se sabe por onde.
À medida que os habitantes apaziguados e irmanados em volta do fogo do pequeno monte, cada vez mais iam se reunindo , do sol que se formou no teto da caverna começaram a sair vapores que iam dissolvendo o teto e já dava para ver o céu e o sol do lado de fora.
Os viventes olhavam encantados e admirados.


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