08 julho 2014

PERMANECER NO ESTADO ANTIGO




Quando em consultório, a colocação que sempre se faz é que se está a buscar o autoconhecimento, a solução de algo que incomoda, enfim, a mudança. O processo tem início e a pessoa começa a se deslumbrar com os novos horizontes que se descortinam, horizontes esses que já existiam, só não eram percebidos. Então, logo no início ocorre uma ampliação na capacidade de percepção.

Quando o campo perceptivo se amplia, outras situações passam a ser vislumbradas, além daquelas que existiam e não eram notadas. São os vislumbres de novas possibilidades. Situações que ainda não existem e que podem, se desejado, passar a existir. É o redirecionar-se para novos objetivos.

Não é incomum a pessoa chegar ao portal da transformação pessoal, faltando apenas um passo para que ela ocorra e, nesse exato momento retroceder. Abandonar tudo que já havia conquistado e retornar ao seu estado anterior. O medo do novo, do desconhecido faz com que o recuo aconteça. Muitos voltam a se medicar com os remédios que já haviam deixado de tomar e que não lhes faziam mais falta.

O que antes era visto como uma conquista e se sentiam muito bem por isso, agora ao se verem frente a frente a uma nova forma de viver se sentem extremamente ameaçados e correm a se agarrar aos costumes antigos, buscando sentirem-se como antes, pois o desconhecimento das novas formas de ser e a necessidade de segurança provocam esse retorno.

De fato é apenas uma sensação de segurança, propiciada pelo já conhecido. "Fico assim que já sei o que vai acontecer, como vou me sentir..." etc. Até as dores e incômodos são familiares.

O se permitir ficar solto sem se ter as visões já conhecidas e sem saber como serão os desfechos dos novos passos é muito angustiante. É o renascimento, a angustia que retrata e reporta ao registro inconsciente da passagem estreita que possibilita a saída do útero materno para o mundo exterior.

Neste ponto mais do que nunca a pessoa necessita de "ar". Ar é oxigênio, é vida. Tal qual o recém-nascido é estimulado pelo tapinha médico a puxar o ar e dar seu primeiro choro, reação da entrada e saída de ar por vias respiratórias ainda apertadas, aquele que está se transformando também tem seu momento onde o inspirar para encher os pulmões e abrir o peito para a nova vida é muito doloroso. Porém, é muito gratificante.

Pronto! Eis que o renascimento ocorreu. Ocorre também a percepção que, apesar de toda dor, pensamentos e emoções conflituosos nesse processo, a consciência e firmeza natural e espontânea dos novos passos demonstram que a segurança não se encontrava no ater-se às estacas firmadas e estanques, mas no permitir-se seguir o fluxo interno e movimentado, justamente o que fez vir à luz uma nova forma de ser.

É mais que uma mudança: é uma transformação. Esse texto  poderia ter por título "O Portal da Transformação Pessoal".

Verifique quantas vezes em sua vida já esteve com os pés prestes a ultrapassar por esse portal. Verifique também se avançou ou recuou. Aqueles que ousaram dar o passo para frente não têm o que reclamar.

Alguns foram impulsionados pela falta de opção, ou andavam para a frente ou seriam esmagados pelas situações, esses agradecem agora o que na época reclamaram tanto.

Mas há um grande número de pessoas que se detiveram e recuaram, sufocando seu próprio nascimento para a vida. Nascimento esse que pode e deve ser uma opção consciente.

Percebam o como respiram, verifiquem se a respiração é curta, de "soquinhos", enfim se a passagem do ar é livre e natural. Tirem cinco minutos do dia para sentarem e fazerem exercícios respiratórios. Iniciem percebendo como a respiração está, então interfiram fazendo respirações lentas e profundas. Repitam-na várias vezes. Com o tempo ela se tornará natural e vocês poderão dizer sobre as diferenças em suas vidas.



Paulo Antolini

Psicoterapeuta
paulo.salvio@terra.com.br



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