METABOLIZANDO A LUZ
Artigo: Claudia Sampaio
Enquanto
meu olhar se perdia nas copas das árvores do parque, me questionei: o
que seria a caridade? Carência e caridade tem a mesma raiz carus =
valioso, caro, apreciado, querido. Todas que denotam noção de valor.
Incondicional.
Não há expectativa de troca. Não é câmbio. É uma doação. Daí que na caridade você não lamenta ter doado. Sejam
energias tangíveis (objetos ou aplicação de um dom, habilidade) ou
intangíveis (carinho, silêncio, paciência, incentivo, perdão a uma
situação).
Somos Um. Elas se derramaram de você na direção do outro, não para que ele lastime o vazio, incompletude. Uma
das características mais seguras sobre o grau de autenticidade de um
ato caridoso é saber se o fizemos por alguma razão escusa, que não
confessamos nem a nós mesmos. Exemplo? Necessidade compulsória de
aceitação, de aprovação alheia.
Isso
não invalida o gesto, mas sem dúvida, é uma questão a ser trabalhada.
Com franqueza. Porque a carência de reconhecimento não é um bom berço
para a caridade. Alguém que viveu alguma espécie de escassez pode ter
até muito mais sensibilidade para suprir as necessidades que
experimentou no âmago. No entanto, o ato caridoso nasce do resgate do
próprio alinhamento com sua centelha divina, da consciência de que é
capaz de gerar uma vibração que preenche, nutre, sustenta, até que a
individualização destinatária se redescubra apta para realizar a ação
por si mesma – a maestria.
Com
a consciência de que o resultado (a maestria) vai se multiplicar – daí
que a caridade está longe da dependência, como o medo está do Amor.
Cativar a carência de alguém para que este se torne submisso e oprimido é
um desvio brusco de rota. Entra aí, também a gratidão.
Segundo o Codex
gratidão significa que “a
energia recebida deve ser devolvida”. Hum… Se você tem tamanha
consciência da Unidade que percebe que não está doando ao outro, mas a
si mesmo, de quem você receberá a energia devolvida? De si mesmo.
Então,
ela não se baseia na condecoração externa, nem de louros. É uma
gratidão em que a energia devolvida poderia ser descrita pelo prazer
nirvânico que sentimos quando exercemos a caridade. Não busca
recompensas fora de si, a não ser notar que o outro está se sentindo
melhor consigo mesmo.
A
caridade é uma das melhores formas de redescobrirmos a aplicação do
“unificar semelhanças e diminuir diferenças entre as vastas formas de
individualização”*** . Ela me lembra o protocolo do reino vegetal, que se
doa e se adapta as nossas intervenções insanas, sem muitos
questionamentos e julgamentos. Incondicionalmente. A lembrança de um
ditado que diz que “a árvore não nega a sombra , frutos ou flores ao
lenhador que irá ceifa-la” – me despertou ternura e gratidão a árvore diante de mim.
Procuro senti-la. Ela é um dos seres com o qual adoraria “unificar as semelhanças e diminuir as diferenças”… Aprender… Ela
respondeu direto no coração. Consegue metabolizar a própria nutrição e a
nossa através da LUZ. Caridade pura. É uma querida mesmo, incrível como
até o silêncio das árvores é eloquente, sábio e amoroso: Seja Luz.
*** Decreto da Reconciliação – Codex
Fonte: MOVIMENTO ERA DE CRISTAL