15 setembro 2014

METABOLIZANDO A LUZ






Artigo: Claudia Sampaio

Enquanto meu olhar se perdia nas copas das árvores do parque, me questionei: o que seria a caridade? Carência e caridade tem a mesma raiz carus = valioso, caro, apreciado, querido. Todas que denotam noção de valor. Incondicional.

Não há expectativa de troca. Não é câmbio. É uma doação. Daí que na caridade você não lamenta ter doado.  Sejam energias tangíveis (objetos ou aplicação de um dom, habilidade) ou intangíveis (carinho, silêncio, paciência, incentivo, perdão a uma situação).

Somos Um. Elas se derramaram de você na direção do outro, não para que ele lastime o vazio, incompletude.  Uma das características mais seguras sobre o grau de autenticidade de um ato caridoso é saber se o fizemos por alguma razão escusa, que não confessamos nem a nós mesmos. Exemplo? Necessidade compulsória de aceitação, de aprovação alheia.

Isso não invalida o gesto, mas sem dúvida, é uma questão a ser trabalhada. Com franqueza. Porque a carência de reconhecimento não é um bom berço para a caridade. Alguém que viveu alguma espécie de escassez pode ter até muito mais sensibilidade para suprir as necessidades que experimentou no âmago. No entanto, o ato caridoso nasce do resgate do próprio alinhamento com sua centelha divina, da consciência de que é capaz de gerar uma vibração que preenche, nutre, sustenta, até que a individualização destinatária se redescubra apta para realizar a ação por si mesma – a maestria.

Com a consciência de que o resultado (a maestria) vai se multiplicar – daí que a caridade está longe da dependência, como o medo está do Amor. Cativar a carência de alguém para que este se torne submisso e oprimido é um desvio brusco de rota. Entra aí, também a gratidão. 

Segundo o Codex gratidão significa que  “a energia recebida deve ser devolvida”. Hum… Se você tem tamanha consciência da Unidade que percebe que não está doando ao outro, mas a si mesmo, de quem você receberá a energia devolvida? De si mesmo.

Então, ela não se baseia na condecoração externa, nem de louros. É uma gratidão em que a energia devolvida poderia ser descrita pelo prazer nirvânico que sentimos quando exercemos a caridade. Não busca recompensas fora de si, a não ser notar que o outro está se sentindo melhor consigo mesmo.

A caridade é uma das melhores formas de redescobrirmos a aplicação do “unificar semelhanças e diminuir diferenças entre as vastas formas de individualização”*** .  Ela me lembra o protocolo do reino vegetal, que se doa e se adapta as nossas intervenções insanas, sem muitos questionamentos e julgamentos. Incondicionalmente. A lembrança de um ditado que diz que “a árvore não nega a sombra , frutos ou flores ao lenhador que irá ceifa-la” – me despertou  ternura e gratidão a árvore diante de mim.

Procuro senti-la.  Ela é um dos seres com o qual adoraria “unificar as semelhanças e diminuir as diferenças”…  Aprender…  Ela  respondeu direto no coração. Consegue metabolizar a própria nutrição e a nossa através da LUZ. Caridade pura. É uma querida mesmo, incrível como até o silêncio das árvores é eloquente, sábio e amoroso:  Seja Luz.

*** Decreto da Reconciliação – Codex

Fonte:  MOVIMENTO ERA DE CRISTAL
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